domingo, 6 de julho de 2014

A ARTE DE PENSAR...



A arte de pensar...

Filosofia (do grego: “amor à sabedoria”).


Representando um esforço da “mente humana consciente”, no intuito de ( por intermédio da razão) compreender a si e ao mundo (o humano e a natureza, da qual é manifestação consciente ),a Filosofia - como atividade de reflexão – tem como compromisso ontológico (referente ao Ser), o aprofundamento das possibilidades existenciais do “ente humano” e seu conhecimento sobre si e sobre o mundo.
A razão, indispensável para o pensamento filosófico, pode ser definida como: capacidade lógico reflexiva da “mente consciente humana” , através da qual o "ente humano" pode melhor compreender os movimentos regulares e irregulares dos objetos no mundo e em seu corpo psicofísico (corpo físico e mente; a mente incluí a imaginação e memória...) ,analisar , encontrar semelhanças e diferenças entre objetos, denominá-los e defini-los conceitualmente - onde se inclui um olhar para si mesma(a mente consciente, definindo-se por meio da razão, pensando a si) . Tal capacidade manifesta-se segundo certas regras fundamentais, implícitas no desenvolvimento do ato de pensar , em linhas gerais (apresentadas de forma sintética) :

-Ligar sempre, todo particular a uma representação de universal.

ex:Dedução:todo corpo material é composto por átomos > o corpo humano é material > o corpo humano é composto por átomos.
Indução: o corpo humano material é composto por átomos < os corpos materiais de todas as espécies animais e vegetais, conhecidas, são, também, compostos por átomos < todo objeto material é composto por átomos < a matéria é composta por átomos;

-Ligar todo individual a uma representação de totalidade . Exemplo: Dedução:a natureza é a totalidade que engloba a tudo que existe > Pedro existe > Pedro é parte da natureza.
Indução: Pedro é indivíduo humano < a espécie humana é manifestação do reino animal < o reino animal é manifestação da natureza < Pedro é um animal, manifestação da natureza . Dependendo do objeto da investigação racional, a ênfase poderá estar na dedução ou na indução,reconhecendo que uma implica na outra (na dedução está implícita a possibilidade de indução e vice versa), sendo o fim sempre o conceito . A esses processos de raciocínio e construção de argumentação, podemos somar a "analogia" e outros recursos de análise lógica. __________________________________________________________________________________ Outros exemplos: - de argumento dedutivo:A natureza é a totalidade existente > tudo que existe é parte da natureza > Pedro existe > Pedro é parte da natureza.


- de argumento indutivo:Os homens são seres vivos, compostos de matéria orgânica e são mortais < os cães são seres vivos, compostos de matéria orgânica e são mortais < os gatos são seres vivos, compostos de matéria orgânica e são mortais < todo ser vivo conhecido, composto de matéria orgânica é mortal < tudo que for vivo e composto de matéria orgânica, será, provavelmente, mortal.


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-Ligar toda especulação teórica a referentes empíricos que, por sua vez, devem estar relacionados com outras noções conceituais conhecidas e claras na consciência , seguindo as exigências do princípio de contradição ( uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo ).


A rede conceitual que forma uma Teoria (visão sobre a realidade - sendo realidade o conjunto de fenômenos aos quais nossa consciência pode ter acesso, incluindo o que é percebido pela própria mente como sendo produto de sua cognição ativa, e de sua imaginação) construída ou analisada por um processo de reflexão filosófica, está aberta a reformulação constante segundo a coerência da análise racional crítica, visando sempre a veracidade e coerência da teoria. Mesmo as definições sobre razão e filosofia estão abertas a re-elaboração racional demonstrando a qualidade auto-crítica da razão filosófica.
Esboços de noções conceituais ( as idéias ainda não transformadas em conceitos) são moldados em um processo de comparação com a rede conceitual da qual se espera recíproco ajuste lógico. Caso essa combinação não aconteça, uma falha (sinal de incoerência lógica) é identificada no processo. A percepção do erro pode exigir a reformulação da rede de conceitos tomados como referência (todos ligados direta ou indiretamente entre si) ou uma nova elaboração mais aprofundada do que se pretende esclarecer , com as devidas correções .


O conceito de consciência ao qual atribuímos a qualidade de sujeito da atividade filosófica, pode ser descrito, sinteticamente, como : qualidade ontológica do animal humano ciente de sua própria existência e de sua própria capacidade de percepção sensível e intelectual .Ser consciente é ser capaz de perceber-se como ente, ciente de seus estados sensíveis em relação com o outro ( outro semelhante; objetos; o mundo como um todo;o ambiente; fenômenos sensíveis ;o próprio corpo ...).Uma das peculiaridades da “consciência humana” é sua capacidade de criar representações de “mundo”, uma idéia ou imagem complexa do Universo (a natureza imaginada em sua totalidade).


Partindo desses pressupostos podemos nos referir a filosofia como uma intencionalidade implícita no uso da razão.Essa arte reflexiva , identificada na história do pensamento filosófico (produto da filosofia e não a própria) , na manifestação expressa do exercício racional de indivíduos dedicados a um pensamento dirigido pela mesma necessidade que a define (a filosofia), apresentou-se , e apresenta-se, como uma ação reflexiva comprometida com o humano e dirigida à compreensão da realidade (que inclui o homem) e sua verdade (sendo “verdade” a correspondência lógica entre pensamento e mundo fenomênico; o que penso deve corresponder com o que percebo de forma a mais exata possível para que possa considerar algo como verídico , mas, como a percepção pode ser enganosa é necessário uma atenta e arguta observação racional ).É um fato histórico que aquilo que sempre foi qualificado como reflexão filosófica, desde os primórdios do pensamento pré-socrático , na antiga Grécia, seguiu essa intenção, embora, tenha se apresentado dentro de roupagens diversas.


As teorias são históricas , mas não a filosofia e a razão (que está na base de sua definição).


Descartando-se a intenção da atividade filosófica e a razão que a orienta,a filosofia torna-se nula.


Podemos ainda falar em filosofia como: um posicionamento da consciência humana diante da realidade (conjunto de fenômenos que se apresentam ao ente humano e que se tornam objetos das definições empreendidas por sua vontade manifesta) um “estar” no mundo caracterizado pela dilatação intencional da capacidade racional ,direcionada à compreensão do ser e de manifestações particulares do mundo fenomênico (vontade de saber ontológico) ,assim como - seguindo uma preocupação prática- um agir com fins de transformação da mesma realidade ,de acordo com as possibilidades identificadas pelos trabalhos da reflexão, diante dos dados manifestos à consciência (vontade ética, política e vontade estética) .


O espanto diante do aparentemente comum e banal é um impulso importante para um movimento reflexivo de caráter filosófico, um olhar de estranhamento “como se fosse a primeira vez”, é o ponto de partida da filosofia.
Amante da filosofia (filósofo:aquele que tem amor à sabedoria; amigo da sabedoria) é aquele que busca a verdade , independente da beleza ou fealdade que suas pesquisas possam revelar pelo caminho e sem render-se ao temor que inspira a grandiosidade desse projeto, comparável ao desejo de abraçar o infinito. O papel desse “estranho”na polis é espalhar a dúvida, incitar a reflexão, despertar o espanto e divulgar o conhecimento . Esse ser que aspira conhecer os fundamentos do Universo é o mesmo que , ao se deparar com aquilo que identifica como aparente falha (na natureza) ou injustiça (nas tragicomédias humanas) , sente-se na obrigação de ultrapassar o erro, no esforço de construção de uma teoria ética , ou de um sistema ideal de governo, por exemplo.



A reflexão filosófica pode ser direcionada para áreas diversas ,denominadas de acordo com o objeto no qual se concentra o pensar filosófico. Assim encontramos disciplinas como:Filosofia do Ser (Ontologia); Teoria do Conhecimento; Ética; Filosofia da Arte (Estética); Filosofia Social e Política; Lógica; Filosofia da História ; Filosofia da Natureza; Antropologia Filosófica; Filosofia da Ciência; Filosofia da Religião ; etc; Sem nunca perder-se a intenção do movimento reflexivo, caracteristicamente filosófico.



Aos produtos da reflexão filosófica ,sistematizada, chamamos “teorias”. As teorias não são “a filosofia”propriamente dita (pois essa é “atividade de reflexão”), mas, resultam do pensar filosófico , são históricas e abertas a crítica, podendo ,porém , influenciar o pensamento filosófico em todas as áreas de sua abrangência. Cada teoria em particular, destaca-se peculiarmente - além da formalização sistemática- , por seguir uma ou algumas idéias (hegemônicas dentro do sistema) originadas de um movimento culminante do pensamento racional, da mente consciente que a expressa . Dessa forma temos algumas teorias que originaram , na história da filosofia , grandes movimentos filosóficos, muitos dos quais se estenderam para outras áreas da atividade humana( na teoria política, na arte, nas ciências...), por exemplo: “O idealismo”; “O Platonismo”; “O Estoicismo”; “Epicurismo”; “Existencialismo”; “Materialismo histórico dialético”; “Empirismo”; “Positivismo”; “Filosofia da Vida”; etc...


É importante destacar o papel unificador que a filosofia exerce na condensação de saberes produzidos originariamente por ciências diversas.Hoje alguns pensadores apostam que o futuro das ciências , cada vez mais próximas , é a revitalização da filosofia.


Tomando o homem como um “ser em construção”, um animal dotado de uma capacidade racional, a qual muitas vezes não expressa adequadamente, e de impulsos naturais dos quais, em sua maioria, não tem conhecimento e aos quais reprime de forma ineficiente , algumas vezes desnecessária (um ser ainda muito ignorante de si mesmo, mas dotado de um forte potencial criativo) , encontramos na filosofia a manifestação de uma vontade de superação da espécie, no reconhecimento de suas fraquezas e possibilidades.






Paulo Vinícius Nascimento Coelho (professor de Filosofia na Escola Estadual de Ensino Médio Cilon Rosa, em Santa Maria RS)

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